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ENTREVISTA "É UM PRIVILÉGIO SER CAPITÃO DO FONTELAS"

Aos 32 anos, Hugo Ermida é hoje uma grande figura do futebol reguense, e um «capitão» que ficará para sempre na história do FC Fontelas.
Em 2006, acabado de sair da formação do Régua, o agora médio dos «azuis-e-brancos» iniciava o seu percurso enquanto sénior no clube do qual mais tarde se tornaria um dos grandes líderes do balneário. Com efeito, o então «teenager» mal sabia que não conheceria outro emblema até aos dias de hoje.
Ao longo de 14 anos, Hugo Ermida viveu alegrias e dramas humanos. Boas épocas na já extinta 1ª Divisão distrital, e épocas tremendamente difíceis na Honra, em que só grupos e coletividades resilientes e com enorme amor ao clube poderiam aguentar um barco que poderia ficar à deriva. Resultados que desiludem e abatem, e vitórias celebradas como se de títulos se tratassem.
Mais do que a entrevista a um homem, esta é uma entrevista que retrata a vida de um dos maiores clubes de futebol do Alto Douro, enorme na sua capacidade de superação das enormes adversidades que enfrentou época após época. Que está de olhos postos no futuro, à procura de continuar a crescer desportivamente e almejar outros patamares. 
 
Entrevistador: Gonçalo Novais
Entrevistados: Hugo Ermida
 
Estás no Fontelas desde a temporada de 2006/07, e portanto já lá vão 14 anos a representar o mesmo clube. Como se explica uma ligação tão longa de um jogador a uma coletividade?
Realmente, já são muitos anos! Que sinceramente, só quando frisados dessa forma, se têm a noção da dimensão que têm. De certa forma, nunca se sabe bem explicar uma situação destas por palavras. Comecei na temporada 2006/07, na minha primeira experiência como sénior, e basicamente o tempo fez o resto. Fui ganhando uma ligação a este clube, fui compreendendo o que o clube significava para as pessoas da terra, o quanto aquele espaço de terra fazia vibrar as gentes da freguesia.O tempo foi passando, as temporadas foram decorrendo, e a continuidade no plantel mais me fazia sentir o clube, a sua mística, história, dificuldades e lutas.Aliados a isto, também os factos profissionais influenciaram, pois na altura o Fontelas era o clube que “facilitava” quem não tinha tanto tempo disponível, por questões profissionais ou universitárias.Assim foi passando o tempo, em que comecei também a integrar as equipas de direção ou de treinador de formação, ajudando no processo construtivo e evolutivo do clube.E pronto o amor foi aumentando cada vez mais, e fazer o que amamos e ainda num sitio que nos faz sentir bem, uma família, levam-me a crer que os ingredientes estavam todos lá para estes 14 anos acontecerem.
 
Antes de falarmos no percurso no Fontelas, comecemos pela formação, em que passaste por clubes credenciados como o Régua ou o Diogo Cão. Que análise fazes daquele que foi esse teu percurso formativo, quais as aprendizagens mais relevantes que fizeste no plano futebolístico, e quais as pessoas que mais me marcaram durante este período?
O meu percurso formativo, começou já um pouco tarde, em relação a alguns colegas de formação que já vinham com uma base de outros escalões anteriores. Eu comecei a minha formação no Sport Clube da Régua no escalão de Iniciados, já no mês de dezembro, em que decorria já o campeonato. Foi o realizar de um sonho, eu era um jogador de rua, só jogava na escola e na rua com os amigos da terra, e foi através de um amigo mais velho que  fui fazer o “teste” e acabei por ficar. Foi um processo muito positivo, desenvolvi muito do que estava escondido, e cresci muito em termos físicos e  táticos, precisamente uma área que me apaixona. A proximidade com o plano de treino, como se fazia, porque se fazia, foi essencial naquele momento, pois não tinha qualquer tipo de formação até então. Então estive na formação do Sport Clube da Régua até ao momento que surgiu o convite e a oportunidade de ingressar na formação de Juvenis no Diogo Cão, na altura a disputar o campeonato nacional. Posso dizer que dai, surgiram novas ideias, nova vivências, novas realidades, que contribuíram também em muito na minha formação. Acabei por regressar ao Sport Clube da Régua passado uma época, onde terminei o meu percurso de formação até aos Juniores. Neste percurso de formação no Sport Clube da Régua, todos foram importantes na minha formação futebolística. Toda a equipa técnica que me acolheu na minha primeira experiência foi espetacular, e embora eu realce a importância de pessoas como o mister Feijó, o mister Sousa ou mais tarde o professor Michel, devo destacar alguém que foi de todas as formas o principal “culpado” desta aprendizagem e também por fazer crescer o interesse pela modalidade, o mister Zeca Seminário, que foi de longe a pessoa com quem mais aprendi. Foi o meu treinador principal praticamente no processo todo de formação, e mais tarde ainda como sénior. Só de o ouvir era gratificante, e estou-lhe grato pelo impacto que teve no meu percurso.
 
Em 2006, de que forma surgiu a oportunidade de jogares no Fontelas, e quais os motivos que te levaram a rumar ao clube?
Bem, a formação no Sport Clube da Régua deu-se por concluída, e por vários motivos de falta de comunicação e problemas de deslocação, aliados a questões académicas normais numa idade em que a vida universitária pode tornar inconciliável a ida aos treinos e jogos, acabei por não seguir para a equipa principal. Até que por mero acaso, o mister Zeca Seminário, então treinador do Fontelas em 2006, cruzou-se comigo e convidou-me a “aparecer”. Como tinha conseguido trabalho, e por não ingressar na universidade, aceitei o convite de imediato, e assim começou a minha história no clube. Agora que olho em retrospetiva, é interessante ver que quando todos e tu próprio pensas que acabou porque perdeste a oportunidade ou tens que fazer escolhas, alguém te abre uma nova porta, com consequências que podem ter um grande significado para ti.
 
De que forma correu a tua adaptação a um novo clube, no teu primeiro ano de sénior?
A adaptação foi dura no início. Apesar de voltar a encontrar alguns amigos mais velhos, que já tinham partilhado balneário comigo no Régua, é sempre complicado entrar num grupo com pessoas desconhecidas, que já têm uma maturidade futebolística diferente. Acho que é o processo normal de todos os jogadores, que mudam de clube. Mas, rapidamente esse período passou, e como já frisei antes, todos que já faziam parte do clube, abraçaram-me de uma forma excecional. No entanto, entrar num balneário destes há 14 anos era bastante diferente de agora.O respeito era totalmente diferente e posso dizer que comecei a falar para os mais velhos quase passado um mês. Porém, isso também contribuiu para a minha formação e crescimento como atleta e também como pessoa. Quando as coisas eram bem feitas a palavra de apoio, de motivação, de coragem, dos jogadores mais velhos, como Paulo Gouveia, Fisga, Paulo Ferreira, Daniel Silva, Augusto Ferreira, entre muitos outros, tinha um significado muito grande. O Fontelas era uma família, e este clube sempre foi caracterizado por isto mesmo. Quem entra faz parte da família e nunca mais sai Por isso foi uma adaptação magnifica, porque todos são recebidos de uma forma sensacional.
 
Durante algumas épocas, o Fontelas competiu na extinta 1ª Divisão da AF Vila Real, com várias classificações de bom nível durante este período, entre as quais, por exemplo, um terceiro lugar em 2009/10. Que análise fazes desta primeira fase de percurso, no segundo escalão do futebol distrital?
Sim, o Fontelas competiu maioritariamente na 1ª Divisão , e eram constantes os bons resultados nesse período. Para mim foi claramente gratificante encontrar um futebol muito mais rígido e físico, em que por vezes parecia mais um jogo de ressaltos, do que propriamente jogar “bem", mas foi um bom impulsionador para a minha evolução em muitos aspetos. Se não estou erro, houve uma época em que tivemos um período muito bom, à 12ª jornada tínhamos apenas um golo sofrido, e éramos a equipa com menos golos sofridos do distrito e, salvo erro de todos os campeonatos portugueses! Em 2009/10 claramente foi a melhor classificação, um ano sensacional, apesar de ter acabado com uma tragédia pelo falecimento do nosso treinador Ricardo Teixeira Mas a análise geral é muito positiva e gratificante, acho que esta Primeira Divisão faz muita falta no percurso dos jovens atletas que agora fazem esta transição.
 
 
Em 2011/12, o Fontelas passa à Divisão de Honra, e para um novo patamar de exigência desportiva. De que forma é que o clube e a equipa se prepararam para essa nova fase?
Foi uma transição muito complicada. A tragédia com o treinador e a extinção da divisão mais baixa fez cair alguns processos que estavam em construção, e levou o clube a começar o campeonato na Honra praticamente do zero, o que tornou muito mais difícil. Fomos à luta com o que tínhamos, e tentámo-nos adaptar a cada jogo e treino, bem como a novas realidades. Todos os que passaram pelo clube nessa fase fizeram sempre o possível, com o que podíamos ter, num clube de dimensões pequenas, em que ninguém era remunerado, e tudo era sempre feito por amor à camisola e gosto pela modalidade, mas com a noção de que era difícil conseguir estar ao nível de muitos outros.
 
Quais as maiores dificuldades que foram sentidas pelo Fontelas, a partir do momento em que passa a jogar na Honra?
Basicamente, o que já referi antes, começar tudo do zero, uma nova estrutura, novos planos, e poucos recursos monetários, o que levava também a poucos recursos humanos.O Fontelas até então tinha plantéis cuja maioria dos jogadores não tinham uma disponibilidade permanente para as atividades desportivas, e precisavam de uma certa flexibilidade entre o futebol e a dedicação ao trabalho ou aos estudos. Neste contexto, a mudança para um campeonato mais competitivo, aliada à extinção de muitos outros clubes, levaram jogadores a fortalecer os clubes já existentes na Divisão de Honra, e isto deixava sempre o clube um pouco aquém do que era preciso. Conseguir atletas suficientes para criar competição interna era complicado, logo não se criava forma de evoluir mais rápido e constantemente. Os jogadores, nos primeiros dos anos de Divisão de Honra eram na maioria muito jovens, e apesar de alguma ou muita qualidade, a falta de experiência num campeonato tão competitivo faz toda a diferença. Este foi todo um conjunto de situações em paralelo, que acabou por nos prejudicar.
 
É indiscutível que, a partir do momento em que existe a transição para a Honra, que os resultados desportivos passaram a ser muito menos positivos do que antes, com épocas, por vezes, extremamente difíceis nesse aspecto. Como se gere, e aqui também podes falar como capitão, um balneário em que se festejam tão poucas vitórias ao longo do ano?
Do meu ponto de vista, só com muita coragem e dedicação ao que estamos a fazer. É sem duvida muito difícil manter a moral em cima e continuar a trabalhar. Aqui, entra a nossa parte humana, para além da parte profissional, de todos os que fazem parte da estrutura. Desistir num momento desses é sempre o mais fácil, mas quem se propõe a seguir em diante, tem que possuir uma mentalidade forte. Como capitão tive diversas ocasiões que foram muito difíceis, por variadíssimas razões, mas tive o privilégio de aprender com os melhores e o privilégio de ser seguido pelos maiores. E só com isso é que foi possível levantar a cabeça e lutar sempre que necessário.
 
Numa sociedade que valoriza tanto o resultado, que tipo de valores têm de ser transmitidos e reforçados numa equipa que tem de encontrar resiliência e força de vontade para continuar a lutar para ser feliz?
Sim, sabemos que cada vez mais o que importa é ganhar, e não importa como foi, o que se passou ou se o empenho foi bom ou mau. O resultado é o que mais importa, as vitórias morais não chegam. Penso que devíamos pensar mais no lado humano, pois hoje vemos pais, mães e familiares de jovens atletas a terem um comportamento reprovável nos campos de futebol. Se não passamos os valores humanos, e não os respeitarmos, nunca seremos bons profissionais, seja no futebol seja em qualquer coisa que façamos na vida. É verdade que num jogo estamos em competição constante e somos postos à prova a todo o momento para sermos melhores que o outro, mas essa competição tem que ser digna de respeito. Temos que respeitar o trabalho de equipa, sabermo-nos colocar no papel dos outros e confiar no parceiro para que ele confie em nós. Acho que se colocarmos respeito, regras e responsabilidade, e desfrutarmos do que nos deixa felizes, colocando tudo o resto à parte, conseguimos ser melhores e mudar muitas mentalidades.
 
Tornou-se viral um vídeo de uma entrevista feita, no ano passado, ao então treinador Hélder Ferreira, em que toda a equipa comemorava efusivamente uma das vitórias alcançadas, como se de uma final se tivesse tratado. Como é que o Fontelas vive uma vitória, quando ela surge?
Foi um ano que ficou e ficará para sempre gravado na minha memória. Muito intenso, com muitas dificuldades, mas o grupo de trabalho era de excelência, e o  mister Hélder Ferreira foi dos principais protagonistas desse sucesso, pois fez um trabalho incrível com os poucos recursos que tinha à disposição. Já partilhei balneário com muitos grandes atletas que passaram neste clube, mas esse ano foi magnífico em termos humanos. Era um grupo muito coeso, e que criou um ambiente de amizade e companheirismo muito fortes, e esse vídeo é o exemplo disso. Trabalhávamos muito apesar de todas as dificuldades, e todas as semanas eram preparadas com o foco de virar a página de maus resultados e da própria imagem do clube e do grupo. Quando realmente conseguimos a vitória, vivemos um momento de êxtase tão gratificante, que a tua vontade é parar ali o tempo, e desfrutá-lo para sempre. Evidentemente que durante a semana seguinte parece que tudo custa menos, nem que fosses correr durante horas.Tudo fica mais “leve”, e o foco, motivação e empenho aumentaram ainda mais.
 
Esta temporada, tem-se registado uma grande melhoria dos resultados, e a equipa já somou seis triunfos até agora. Que análise fazes da época da equipa, até ao momento?
Sim, esta época está a tornar-se na melhor da história do clube na Divisão de Honra. A angariação de muitos jogadores está a ser um ponto muito positivo para a melhoria de resultados, pois criou uma competição interna que potenciou a qualidade coletiva e individual. Tem sido feito um trabalho muito bom pelo staff, principalmente pela equipa técnica, que está a conseguir tirar o que de melhor estes jovens têm para oferecer. Os resultados estão à vista, e embora não sejamos o que queríamos, o trabalho está a ser feito para isso.
 
Além de jogador há tantos anos, és também capitão de equipa. O que significa para ti envergares essa braçadeira?
É uma honra, um privilegio, usar aquela braçadeira durante tantos anos. Saber que os meus colegas me viam como a pessoa certa para ocupar esse estatuto, era o que me mais fazia sentir orgulho. Respeito muito este clube, a minha dedicação a este emblema é enorme, e a responsabilidade de transmitir esta identidade é cada vez maior a cada ano que passa. Agora é hora de começar a passar o distintivo, e acho que neste anos todos que tive como companheiro e amigo durante praticamente 12 anos o Flávio Fonseca, chega a hora de ele também assumir a liderança em campo. Cá estarei para lhe passar tudo que me foi passado a mim, de modo a ajudá-lo da melhor forma possível. 
 
Qual o papel que te vês a desempenhar no clube durante os próximos anos?
Neste momento, ainda não penso muito nisso. Eu prefiro pensar no presente e desfrutar e comprometer-me com o que faço no momento. Já desempenhei o papel de treinador na formação durante alguns anos e não poso negar que foi algo muito enriquecedor, e que gostei muito. Mas é muito cedo para pensar noutro papel que não seja ainda de jogador.
 
Até que ponto perspetivas a tua continuidade no Fontelas, para lá da tua carreira como futebolista?
Gostaria muito de continuar ligado a este clube seja em que funções forem, pois a ligação a esta instituição é muito grande é um vinculo quase impossível de quebrar. Claro que tudo isso depende sempre de um futuro quase incerto, porque também depende das pessoas que vão continuar ou entrar de novo no clube.
 
Que futuro perspectivas para o Fontelas enquanto clube nos próximos anos?
É difícil de responder de forma clara, mas se me perguntares o que eu gostaria que se concretizasse, gostaria que o Fontelas continuasse este bom momento, que se estruturasse cada vez melhor a cada ano que passasse, e que voltasse a ter o seu nome no lugar de destaque que outrora teve. Que a formação evolua mais, para que possa ser dada continuidade aos anos transatos, e que crie sempre novas equipas, com bons técnicos e dirigentes. Desejo também que as pessoas de Fontelas voltem a estar no estádio como há muitos anos atrás, e que forme uma massa associativa forte, que nos ajude a não ver cair por terra o que tantos tentaram a muito custo manter à tona, que é este amor de verdade que nos liga ao Fontelas.
 
 
Texto: Gonçalo Novais
Foto: Monteiro de Queiroz/FC Fontelas

 

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Data de publicação: 2020-04-02

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